Por que o Papa renunciou?
Por que o Papa renunciou?
Devido à completa decomposição do poder interno da Igreja, que sai à tona pelas denúncias de lavagem de dinheiro, pedofilia e outros crimes A longa crise interna do Vaticano abre um novo capítulo. (Foto: Imagem retirada da internet) Recentemente, o Papa Joseph Ratzinger, ou Bento XVI, anunciou a renúncia ao papado, fato que não acontecia havia seis séculos. A chave para o entendimento da crise do Vaticano está nos documentos revelados em maio do ano passado pelo mordomo e amigo de Ratzinger, Paolo Gabriele. O vazamento tinha começado em fevereiro, mas em maio atingiu a cúpula dos cardeais. O próprio porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, chegou a qualificar o vazamento como o Vaticanleaks, em alusão aos documentos do Departamento de Estado dos EUA publicados pelo Wikileaks. Os documentos que vieram a público revelaram a luta entre as várias facções que controlam o Vaticano, atingido a dimensão de um verdadeiro ninho de cobras. A imprensa burguesa tentou apresentar como único culpado pelo vazamento a Gabriele, que apenas teria contado com o apoio de um técnico em informática. As condenações foram muito leves, 18 meses e quatro meses de prisão respectivamente, o que mostrou que a verdadeira dimensão dos acontecimentos passava longe dos aparentes protagonistas. As brigas entre as facções se acirraram devido ao novo escândalo envolvendo o Banco do Vaticano, à idade avançada de Ratzinger, cuja saúde é precária, e à proximidade do conclave que deverá eleger o novo Papa. Os setores ligados ao Arcebispo de Milão tentam ganhar espaço sobre o setor ligado ao cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano, homem de confiança do Papa. Uma carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, núncio dos EUA, divulgada por um canal de televisão, representou um enorme golpe para o setor ligado ao Papa. O núncio denunciava vários casos de corrupção ao mesmo tempo que pedia para não ser removido do cargo de secretário geral do Governatorato, departamento responsável por licitações e abastecimentos. Os sórdidos bastidores do Vaticano são relevados em várias outras cartas, como a do cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos, recheada com escandalosos detalhes. O tamanho da crise pode ser medido levando em conta que Ratzinger era o mentor teórico e político do Vaticano desde 1981, quando se tornou o principal conselheiro de Karol Wojtyla, ou João Paulo II, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele foi o responsável por impulsionar a política ultradireitista da Opus Dei, o grupo que controla o Vaticano, e pelo expurgo da esquerda católica. Primeiro a impôs com mão de ferro no cenário interno, calando a boca dos setores mais à esquerda, a começar pela Teologia da Libertação. Nos últimos anos, encabeçou a ofensiva reacionária contra as mulheres, levantando as bandeiras do suposto direito à vida, contra o direito ao aborto, e da volta da mulher ao lar para cuidar dos filhos, que significa o abandono de postos de trabalho no contexto do aumento do desemprego e de virada da situação à esquerda em escala mundial, devido ao aprofundamento da crise capitalista, que tem levado ao colapso do neoliberalismo e ao ascenso das massas. Finalmente, o renunciante foi responsável pela reabilitação da extrema-direita ultra católica representada pelo Monsenhor Lefebvre e outros apoiadores declarados de governos fascistas como o de Pinochet. Por trás, as denúncias de lavagem de dinheiro pelo Banco do Vaticano A longa crise interna do Vaticano abre um novo capítulo com a renúncia ou, melhori seria dizer, com a derrubada de Joseph Ratzinger do cargo máximo da hierarquia eclesiástica. A crise veio à tona com os acontecimentos obscuros envolvendo o colapso do Banco Ambrosiano quando da morte de Paulo VI e a morte do seu sucessor, João Paulo I, sob condições extremamente suspeitas (ver nota nesta página). A feroz luta política que levou à queda do atual pontifex maximus tem como base o controle das atividades financeira da Igreja, relacionadas a um mar de negócios escusos e parceiros ainda mais escusos como a brutal máfia siciliana. O poder econômico do Vaticano se sustenta num amplo emaranhado de empresas controladas pelo imperialismo que potencializa os lucros em cima da especulação financeira e de operações ilícitas. Numerosos escândalos têm aparecido nas últimas décadas. O sepultamento de Enrico De Pedis, chefe do grupo mafioso romano Banda de Magliana, na Santa Sé, ao lado dos Papas, revela o nível de intimidade com o brutal crime organizado. Em 1982, o Banco Ambrosiano, propriedade do Vaticano, quebrou, deixando uma dívida de US$ 3,5 bilhões e um buraco fiscal de US$ 1,4 bilhões. Na época, o Banco do Vaticano foi acusado de desviar verbas, por meio do Banco Ambrosiano, para os setores pró-imperialistas do Sindicato Solidariedade, na Polônia, e os contras da Nicarágua, que combatiam o governo sandinista. É de domínio público que a Administração Ronald Reagan, um dos paladinos do neoliberalismo mundial, obtinha verbas da venda de armas ao Irã e a partir de outros mecanismos ilegais. Conforme a crise capitalista vem se aprofundando e as taxas de lucro continuam caindo, têm aumentado as denúncias de bancos que fazem dos negócios ilícitos uma parte importante das operações. Os recentes escândalos envolvendo o Wachovia, o HSBC, o Citibank e um grande número de bancos europeus têm mostrado que os especuladores buscam o lucro a qualquer custo – lavagem de dinheiro proveniente do crime organizado em larga escala e descaradas manipulações das taxas que são referenciadas nas principais transações financeiras. É evidente que os traficantes de drogas, grandes contrabandistas, traficantes de armas, exploradores da prostituição e de outras chamadas operações ilícitas não guardam os trilhões obtidos debaixo do colchão. Os bancos são os verdadeiros responsáveis pela lavagem desses gigantescos recursos, pela qual recebem polpudas comissões. Várias denúncias têm sido publicadas na imprensa burguesa apontando o dinheiro ilícito como um importante motor dos lucros no auge do colapso capitalista, em 2008 e 2009. Também tem sido divulgado que a CIA (a Agência Central de Inteligência) norte-americana é o principal cartel mundial e viabiliza as crescentes verbas secretas do combalido orçamento norte-americano, que, em 40%, tem que ser fundeado por mecanismos artificiais, pois o governo não consegue cobri-lo por meio da arrecadação devido à paralisia econômica. O Banco do Vaticano se encontra sob investigação judicial desde setembro de 2011, devido a ter violado as normas de lavagem de dinheiro. O principal executivo do Banco do Vaticano, ou IOR (Instituto para as Obras de Religião), Ettore Gotti Tedeschi, foi demitido sumariamente em maio do ano passado, por Tarcisio Bertone, nos mesmos dias em que foram revelados os documentos secretos. Gotti Tedeschi também se desempenhava como presidente do Santander Consumer Bank, o que evidencia a ponta do iceberg do controle dos mecanismos ditos ilegais pelo sistema imperialista mundial. O Santander, apesar de aparecer como uma empresa espanhola, é propriedade da família real britânica, que o controla por meio do Grupo Alpha. Junto com o RBS (Royal Bank of Scotland) e o Barclays, controla a especulação financeira mundial que é dominada pelo imperialismo norte-americano com o imperialismo britânico a reboque. Apesar de todo este envolvimento com poderosos grupos financeiros, o próprio Gotti, segundo a imprensa internacional, viu-se sob a ameaça de ser assassinado em função das informações que detinha. A violação das normas que regulam o controle da lavagem de dinheiro não implica na bancarrota ou nacionalização dos bancos envolvidos. Mesmo quando deixam enormes dívidas, elas são cobertas com dinheiro público. O nefasto esquema estabelecido pela política do TBTF (Muito Grande Para Falir, nas siglas em inglês), implica em que os grandes bancos sofrerão multas baixas, na comparação com os enormes lucros ilegais auferidos, e que ninguém será preso por causa dessas operações, como, de fato, nunca aconteceu. Basta uma simples profissão de fé de que o banco flagrado se adequará a normas mais rígidas. Esse mecanismo é um dos pilares dos enormes repasses de recursos públicos para a sustentação da parasitária especulação financeira, o coração da economia capitalista, que transformou o mundo num verdadeiro cassino financeiro, um vale tudo para o punhado de especuladores que domina o mundo em cima do aumento da exploração e do sofrimento das massas trabalhadoras. A crise que agora vem à superfície está longe de terminar e deverá ter vários outros capítulos mais, expondo de maneira mais clara a completa decomposição desta instituição, bem como o caráter criminoso dos homens que a dirigem e que, através da sua influência sobre cerca de um bilhão de seres humanos, querem ditar uma política reacionária para a vida dos povos do mundo.
Devido à completa decomposição do poder interno da Igreja, que sai à tona pelas denúncias de lavagem de dinheiro, pedofilia e outros crimes A longa crise interna do Vaticano abre um novo capítulo. (Foto: Imagem retirada da internet) Recentemente, o Papa Joseph Ratzinger, ou Bento XVI, anunciou a renúncia ao papado, fato que não acontecia havia seis séculos. A chave para o entendimento da crise do Vaticano está nos documentos revelados em maio do ano passado pelo mordomo e amigo de Ratzinger, Paolo Gabriele. O vazamento tinha começado em fevereiro, mas em maio atingiu a cúpula dos cardeais. O próprio porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, chegou a qualificar o vazamento como o Vaticanleaks, em alusão aos documentos do Departamento de Estado dos EUA publicados pelo Wikileaks. Os documentos que vieram a público revelaram a luta entre as várias facções que controlam o Vaticano, atingido a dimensão de um verdadeiro ninho de cobras. A imprensa burguesa tentou apresentar como único culpado pelo vazamento a Gabriele, que apenas teria contado com o apoio de um técnico em informática. As condenações foram muito leves, 18 meses e quatro meses de prisão respectivamente, o que mostrou que a verdadeira dimensão dos acontecimentos passava longe dos aparentes protagonistas. As brigas entre as facções se acirraram devido ao novo escândalo envolvendo o Banco do Vaticano, à idade avançada de Ratzinger, cuja saúde é precária, e à proximidade do conclave que deverá eleger o novo Papa. Os setores ligados ao Arcebispo de Milão tentam ganhar espaço sobre o setor ligado ao cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano, homem de confiança do Papa. Uma carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, núncio dos EUA, divulgada por um canal de televisão, representou um enorme golpe para o setor ligado ao Papa. O núncio denunciava vários casos de corrupção ao mesmo tempo que pedia para não ser removido do cargo de secretário geral do Governatorato, departamento responsável por licitações e abastecimentos. Os sórdidos bastidores do Vaticano são relevados em várias outras cartas, como a do cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos, recheada com escandalosos detalhes. O tamanho da crise pode ser medido levando em conta que Ratzinger era o mentor teórico e político do Vaticano desde 1981, quando se tornou o principal conselheiro de Karol Wojtyla, ou João Paulo II, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele foi o responsável por impulsionar a política ultradireitista da Opus Dei, o grupo que controla o Vaticano, e pelo expurgo da esquerda católica. Primeiro a impôs com mão de ferro no cenário interno, calando a boca dos setores mais à esquerda, a começar pela Teologia da Libertação. Nos últimos anos, encabeçou a ofensiva reacionária contra as mulheres, levantando as bandeiras do suposto direito à vida, contra o direito ao aborto, e da volta da mulher ao lar para cuidar dos filhos, que significa o abandono de postos de trabalho no contexto do aumento do desemprego e de virada da situação à esquerda em escala mundial, devido ao aprofundamento da crise capitalista, que tem levado ao colapso do neoliberalismo e ao ascenso das massas. Finalmente, o renunciante foi responsável pela reabilitação da extrema-direita ultra católica representada pelo Monsenhor Lefebvre e outros apoiadores declarados de governos fascistas como o de Pinochet. Por trás, as denúncias de lavagem de dinheiro pelo Banco do Vaticano A longa crise interna do Vaticano abre um novo capítulo com a renúncia ou, melhori seria dizer, com a derrubada de Joseph Ratzinger do cargo máximo da hierarquia eclesiástica. A crise veio à tona com os acontecimentos obscuros envolvendo o colapso do Banco Ambrosiano quando da morte de Paulo VI e a morte do seu sucessor, João Paulo I, sob condições extremamente suspeitas (ver nota nesta página). A feroz luta política que levou à queda do atual pontifex maximus tem como base o controle das atividades financeira da Igreja, relacionadas a um mar de negócios escusos e parceiros ainda mais escusos como a brutal máfia siciliana. O poder econômico do Vaticano se sustenta num amplo emaranhado de empresas controladas pelo imperialismo que potencializa os lucros em cima da especulação financeira e de operações ilícitas. Numerosos escândalos têm aparecido nas últimas décadas. O sepultamento de Enrico De Pedis, chefe do grupo mafioso romano Banda de Magliana, na Santa Sé, ao lado dos Papas, revela o nível de intimidade com o brutal crime organizado. Em 1982, o Banco Ambrosiano, propriedade do Vaticano, quebrou, deixando uma dívida de US$ 3,5 bilhões e um buraco fiscal de US$ 1,4 bilhões. Na época, o Banco do Vaticano foi acusado de desviar verbas, por meio do Banco Ambrosiano, para os setores pró-imperialistas do Sindicato Solidariedade, na Polônia, e os contras da Nicarágua, que combatiam o governo sandinista. É de domínio público que a Administração Ronald Reagan, um dos paladinos do neoliberalismo mundial, obtinha verbas da venda de armas ao Irã e a partir de outros mecanismos ilegais. Conforme a crise capitalista vem se aprofundando e as taxas de lucro continuam caindo, têm aumentado as denúncias de bancos que fazem dos negócios ilícitos uma parte importante das operações. Os recentes escândalos envolvendo o Wachovia, o HSBC, o Citibank e um grande número de bancos europeus têm mostrado que os especuladores buscam o lucro a qualquer custo – lavagem de dinheiro proveniente do crime organizado em larga escala e descaradas manipulações das taxas que são referenciadas nas principais transações financeiras. É evidente que os traficantes de drogas, grandes contrabandistas, traficantes de armas, exploradores da prostituição e de outras chamadas operações ilícitas não guardam os trilhões obtidos debaixo do colchão. Os bancos são os verdadeiros responsáveis pela lavagem desses gigantescos recursos, pela qual recebem polpudas comissões. Várias denúncias têm sido publicadas na imprensa burguesa apontando o dinheiro ilícito como um importante motor dos lucros no auge do colapso capitalista, em 2008 e 2009. Também tem sido divulgado que a CIA (a Agência Central de Inteligência) norte-americana é o principal cartel mundial e viabiliza as crescentes verbas secretas do combalido orçamento norte-americano, que, em 40%, tem que ser fundeado por mecanismos artificiais, pois o governo não consegue cobri-lo por meio da arrecadação devido à paralisia econômica. O Banco do Vaticano se encontra sob investigação judicial desde setembro de 2011, devido a ter violado as normas de lavagem de dinheiro. O principal executivo do Banco do Vaticano, ou IOR (Instituto para as Obras de Religião), Ettore Gotti Tedeschi, foi demitido sumariamente em maio do ano passado, por Tarcisio Bertone, nos mesmos dias em que foram revelados os documentos secretos. Gotti Tedeschi também se desempenhava como presidente do Santander Consumer Bank, o que evidencia a ponta do iceberg do controle dos mecanismos ditos ilegais pelo sistema imperialista mundial. O Santander, apesar de aparecer como uma empresa espanhola, é propriedade da família real britânica, que o controla por meio do Grupo Alpha. Junto com o RBS (Royal Bank of Scotland) e o Barclays, controla a especulação financeira mundial que é dominada pelo imperialismo norte-americano com o imperialismo britânico a reboque. Apesar de todo este envolvimento com poderosos grupos financeiros, o próprio Gotti, segundo a imprensa internacional, viu-se sob a ameaça de ser assassinado em função das informações que detinha. A violação das normas que regulam o controle da lavagem de dinheiro não implica na bancarrota ou nacionalização dos bancos envolvidos. Mesmo quando deixam enormes dívidas, elas são cobertas com dinheiro público. O nefasto esquema estabelecido pela política do TBTF (Muito Grande Para Falir, nas siglas em inglês), implica em que os grandes bancos sofrerão multas baixas, na comparação com os enormes lucros ilegais auferidos, e que ninguém será preso por causa dessas operações, como, de fato, nunca aconteceu. Basta uma simples profissão de fé de que o banco flagrado se adequará a normas mais rígidas. Esse mecanismo é um dos pilares dos enormes repasses de recursos públicos para a sustentação da parasitária especulação financeira, o coração da economia capitalista, que transformou o mundo num verdadeiro cassino financeiro, um vale tudo para o punhado de especuladores que domina o mundo em cima do aumento da exploração e do sofrimento das massas trabalhadoras. A crise que agora vem à superfície está longe de terminar e deverá ter vários outros capítulos mais, expondo de maneira mais clara a completa decomposição desta instituição, bem como o caráter criminoso dos homens que a dirigem e que, através da sua influência sobre cerca de um bilhão de seres humanos, querem ditar uma política reacionária para a vida dos povos do mundo.